Mais de 250 jovens e adolescentes participaram nesta quinta-feira, 11, do Festival do Capão. Promovido pela TV Doc e apoiado pela Oxfam Brasil, o evento foi realizado no Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, e teve como objetivo construir um espaço de valorização da criatividade, produção e cultura da juventude da periferia.
“O resultado superou todas as expectativas. Tivemos mais de 250 jovens, de mais de 15 instituições que atuam na Zona Sul”, comemora Tauá Pires, assessora de Políticas e Incidência da Oxfam Brasil. “O festival mostrou que é possível falar de direitos humanos e de enfrentamento da desigualdade, somando com as estratégias de resistência e de inovação social que acontecem nas periferias. Não vamos conseguir alcançar um país mais justo e igualitário se não levarmos em conta a exclusão que a população periférica está submetida, especialmente a juventude.”
Juventude, gênero e identidade
Entre as atividades do festival estiveram duas rodas de conversa simultâneas, que levantaram debates sobre temas delicados para jovens e adolescentes. Na roda “Juventude, gênero e identidade”, a advogada Eliane Dias e a blogueira Jennyfer Nascimento falaram sobre empoderamento feminino e sobre a importância da valorização da identidade negra, em especial entre as jovens e adolescentes.
“Quem ainda manda em nossa sociedade é o homem rico e branco”, destacou Eliane, produtora da Boogie Napie e coordenadora do programa S.O.S Racismo, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. “ Não é necessário ser submissa a ele, mas não precisamos de mais uma pessoa negra desempregada. Então, se precisar, eu prendo e escovo meu cabelo quando vou advogar. Mas ele precisa saber que não prende o meu cérebro, o meu pensamento, quando prendo meu cabelo.”
:: Veja também: entrevista especial de Eliane Dias à Oxfam Brasil
“É muito importante não nos silenciarmos para o racismo”, completou Jennyfer Nascimento, do coletivo Fala Guerreira. “Temos feridas internas causadas pelo racismo e pelo machismo, e eu sei da importância de curá-las. A gente não quer ser uma beleza exótica. A gente não quer que as pessoas peguem no nosso cabelo no ônibus, no metrô, como se fosse uma coisa rara. A negritude não está só no cabelo e nas vestimentas, mas no conhecer da nossa história e no reconhecer da nossa identidade.”
Juventude e literatura marginal
A segunda roda de conversa teve como tema juventude e literatura. Bruno Capão, da Associação Lado B, e Daniel Farias, da ONG ORPAS, compartilharam experiências de vida e a importância da literatura na busca por alternativas e novas oportunidades.
Para Bruno, a literatura da periferia ou literatura marginal, que retrata a realidade de milhares de pessoas, precisa ser valorizada. Ele conta que foi no lixo que encontrou o primeiro livro com que teve contato e que, a partir disso, toda sua vida mudou. Hoje, ele corre atrás dos próprios sonhos e tem conseguido realizar muitos deles a partir dos projetos sociais dos quais participa – inclusive de incentivo à leitura.
“A leitura permite que você não tenha a ideia fraca, que não faça coisa errada. A leitura tem a capacidade de nos deixar mais fortes para os problemas reais”, reforçou Daniel.
Oficinas e apresentações culturais
Além das rodas de conversas, o Festival do Capão contou com apresentações de música e dança e com várias oficinas: horta e reciclagem, gastronomia, produção de fanzines, forró, jazz e danças urbanas.
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