Conte um pouco sobre sua história.
Sou indígena aymara imigrante com nacionalidade boliviana, cresci e nasci em La paz na Bolívia. Quando tinha 7 anos, meus pais imigraram para conseguir um “futuro melhor” e para trabalhar como costureiros numa oficina de costura e me trouxeram junto para a cidade de São Paulo no Brasil.
Nos primeiros anos tive muita dificuldade em aprender o português, pois naquele tempo, em 2006, não havia muito apoio nas escolas para a integralização de alunos imigrantes. Assim, demorei em torno de três anos para aprender o idioma, o qual aprendi no cotidiano. Isso me deu mais segurança para interagir com meus colegas e amigos brasileiros.
Aos meus 17 anos, terminei o ensino médio e comecei a fazer um curso técnico, e logo comecei a prestar vestibular. Foram quatro longos anos de cursinho para poder ingressar no curso de Artes Visuais na Unicamp. Consegui o acesso a um ensino de qualidade com apoio que minha família me deu. Atualmente sou graduanda desse curso e faço parte do coletivo artístico Centopeia.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
A desigualdade brasileira é muito injusta e paradoxal. Isso porque não é que não haja dinheiro para tentar amenizar a situação, mas o ponto é que não há interesse da maioria dos políticos que se encontram no governo. Digo isso porque sabemos muito bem como é um governo progressista e um governo conservador ou liberal aqui no Brasil.
Assim, por mais que entre um governo progressista e consiga direitos para a população, isso é para a massa; quando entra um governo liberal ou conservador, há um grande retrocesso como por exemplo o governo atual que só tem tirado os direitos já conquistados pelos brasileiros.
Por isso é algo paradoxal e injusto. Isso acontece também em outros países latino americanos. Isso porque os países ainda têm resquícios e pensamentos coloniais muito fortes, até porque nossas histórias são um tanto semelhantes como mostra Eduardo Galeano em seu livro “As veias abertas da América Latina”. No entanto, acredito e tenho esperança que isso um dia vá mudar. O que me faz pensar assim são as últimas manifestações e resistências populares que houve nos países latino americanos como por exemplo Chile, Bolívia, Peru e Colômbia.
Fale sobre sua obra que está no calendário Oxfam Brasil 2022.
O desenho “0,10 centavos” é uma forma de denúncia de como os imigrantes tentam sobreviver com o mínimo do mínimo nesta pandemia, pois é o retrato da superexploração de mão de obra imigrante no setor de confecções e têxteis no Brasil, em que se chegou a pagar 0,10 centavos por máscara e depois esse valor reduziu até 0,5 centavos.