Conte um pouco sobre sua história.
Sou o Webert da Cruz, mas pode me chamar de Web ou Léa Leonarda Onijá. Sou negro, bicha e cria da Ceilândia / Sol Nascente, Distrito Federal. Atualmente moro em Taguatinga e atuo como artista e comunicador em um território aqui da cidade chamado Mercado Sul, onde movimentamos uma ocupação cultural com diversos grupos e pessoas da comunidade. Participo do coletivo de comunicação Retratacão e também da Casa de Onijá, uma família de pessoas LGBTQIAP+ periféricas negras, indígenas e multiartistas. Desde cedo sei o que é estar na luta por dias melhores, vendo a labuta da minha mãe, construindo possibilidades na visão do nóis-por-nóis e carrego isso sempre, enquanto pessoa e ativista de direitos humanos e justiça socioambiental.
No meu trabalho de artista visual e fotógrafo busco imagens que contribuam na luta antirracista, que valorize a periferia e enfrente as violências das desigualdades. Construo poéticas visuais que articulam os corpos-territórios e pautas no qual estou envolvido, principalmente sobre questões da diversidade do existir, retomadas dos nossos chãos e culturas. Também atuo como educomunicador e arte-educador, acredito profundamente na coletividade, educação e arte enquanto intervenção social, criativa e reconfiguradora de mundos.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
Minha perspectiva é de quem vive na parte mais expo-vulnerável desse contexto, mas não somos pessoas fracas diante todo esse sistema de violências sistematizadas no qual vivemos no Brasil e no mundo. Do lado de cá, nos movimentamos coletivamente, na solidariedade e criativamente na quebra e desconstrução de paradigmas impostos a nós e construindo caminhos para a emancipação no nosso povo negro, periférico e diverso.
Atuo nas artes e na comunicação com movimentos e ações que busquem tocar nos enfermos de nossa sociedade, mas que também cure, que dê esperança e fôlego para continuarmos em nossa trajetória de resistência e vida.
Fale sobre sua obra que está no calendário Oxfam Brasil 2022.
Essa obra faz parte de um projeto muito caro para mim e para a comunidade na qual estou envolvido, a ballroom brasileira. Integra a série de lançamento da Casa de Onijá, um dos grupos dessa cena cultural e artística que surge nos Estados Unidos e vai para o mundo como espaço que acolhe, possibilita e celebra vidas LGBTQIAP+. Uma fonte de expressões artísticas diversas, enveredada principalmente pela dança voguing.
A foto com intervenção digital diz respeito a esse espaço de fortalecimento de nós enquanto juventude periférica em tempos tão difíceis como este de pandemia. Ballroom é sobre enaltecimento de corpas e corpos negros, trans, indígenas e periféricos. Reivindicamos nossa ancestralidade, cura e coletividade enquanto energia que nos movimenta. Na foto com intervenção digital está a mãe da Casa de Onijá, Paris Suwika Onijá, travesti preta e professora de biologia na educação pública em Ceilândia. Uma das nossas maiores referências pela pessoa, artista e profissional da educação que ela é. Paris segura uma folha de Espada de Oya, um dos símbolos do nosso coletivo.